quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Aos amantes de ventanias

Parei para observar uma criança que experimentava várias sensações guiando uma pipa. Tudo nela era intenso e surpreendente, tudo nela se confundia, se multiplicava .
Ela ria e parecia estar surpresa consigo mesma quando seu toque rendia movimentos inimagináveis em seu brinquedo perdido no ar . Brinquedo esse que era alvo de todo o seu olhar, de toda a sua inspiração e paz .
Eu a olhava correr, gritar e insistir na brincadeira, e sem querer, comecei a comparar o que via com o que sentia. Pensando dessa forma, cheguei a conclusão que a metáfora certa seria : a criança sou eu, e a pipa que vagueia...se parece muito com meu coração .
O meu coração-pipa...leve, colorido, livre, flutuando pelos meus olhos. O meu coração é assim, se a brisa que há for leve demais...ele entristece por não se perder. Por mais que seja eu quem o guia, um toque de vento forte o torna imprevisível, uma vez que o ponho no ar, em meio a dezenas de outras pipas...um verdadeiro festival de corações vagabundos que interpelam esse tal direito de amar .
O meu coração é pipa, que é livre, mas se perde se não estiver ligado a uma mão que o detenha .
E eu...eu sou só uma criança que pensa que guia a pipa, quando na verdade, é guiada por ela. Deixa que ela seja o centro da sua vontade, que sofre, que ri e corre por ela .
Eu sou a criança que se diverte e se machuca, mesmo sabendo que terá que ter forças para segurá-la consigo...porque tem consciência de que é preciso ter coragem para ' soltar pipa' .
Saindo dos meus pensamentos, enxerguei novamente a criança embaixo da minha janela, que agora chorava por ter perdido a pipa . Me dei conta que eu nada tinha de parecido com aquela criança, já que eu não vou chorar quando perder a minha, quero mesmo que o meu coração-pipa aprenda a voar sozinho e encontrar o seu caminho de vento incessante e que seja encontrado por outra criança, já que, 'pipa solta' é de quem pegar .

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