segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Dia de Brinquedo

Vejo estas crianças correndo na casa onde cresci. Vejo pela janela branca da sala, a árvore que retorcida que se enfeita de flores vermelhas no verão. Vejo o sol do meio-dia fazendo brilhar as frestas do, sempre verde, portão .
Sinto as folhas amareladas da romã roçando meus pés enquanto abro o portão lateral, que esconde tomates e abóboras, se enroscando pelos matos, assim como nos contos da Gata Borralheira .
Subo as escadas de pedra e encontro a visão do que era o Grande Mundo para mim : a paisagem de morros verdes penteando as nuvens e refugiando o sol, o mato alto com um intraduzível cheiro fresco, a estrada de terra que me parecia infinita .
Entro em casa e sinto o chão gelado da cozinha, onde sempre há cheiro de café . Ouço as histórias dos crimes que passam na televisão, mas que chegavam lúdicas aos meus ouvidos pela forma como saíam da boca da minha avó . Histórias estas que sempre tinham ao fundo, o som de uma máquina de costura que paria os meus vestidos e os das bonecas também .
Sento na varanda como sempre fiz, quando ficava esperando para ouvir o som das botas caramelo da minha mãe, o cadeado sendo aberto sempre com pressa pela minha irmã, as músicas da minha madrinha, a forma certa e ritimada do meu tio de limpar os pés, a voz rouca da tia Alice, a forma boba e tímida do primo de brincar com o cachorro e a risada estonteando do padrinho, que insisto em esperar, mesmo sabendo que nunca mais vou ouvi-la .
Os meus sons, os meus cheiros, os meus sabores, as minhas lembranças...que construirão sonhos de outras crianças .

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